quinta-feira, 26 de julho de 2007

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Quando você foi embora
O mundo silenciou
Tudo foi tomado por uma ausência profunda
As horas se apagaram
E eu lembrei do seu sorriso
Foi a única coisa que me fez sentido


Não digo nada
Calo enquanto falo
A vida chove a tua ausência
Uma estrela se apagou

E agora falta alguma coisa
Uma coisa que não sei explicar
Só sei que tudo cala
É inerte
Demora
Onde você não está

Recife, Julho/2007

segunda-feira, 2 de julho de 2007

Maurício














Narrar uma história? Não, estava muito calor e ia terminar por escrever qualquer besteira. Então se deitou e tentou dormir, cheio de pensamentos vagos, de um fio que nunca encontrava a meada; seria bem melhor se conseguisse dormir. Mas continuou atento e ouvia o latido dos cães e as bruscas freadas dos carros às duas da madrugada. Poderiam perguntar-me a quê ele continuou atento... Não sei, só sei que continuava como quem espera achar um pote de ouro debaixo da cama ou entre os lençóis.
Por alguma lógica descabida, ele via um lado positivo em sua maldita insônia; talvez naquela porta entreaberta do sono ele poderia encontrar respostas que acalmariam a sua mente que tanto formigava. Mas chegou à conclusão que estar acordado não lhe traria qualquer resolução para o dia seguinte, o faria, apenas, uma pessoa mais cansada. E não só cansado de estar atento, na espera de alguma de um sopro divino cheio de calma; estava cansado de acordar cansado e seguir cansado pelos seus itinerários. Estava cansado de si mesmo e era só. Era noite perdida, Maurício, noite perdida. Ele dizia a si mesmo.
Em revolta contra sua noite vazia, ele sentou-se e começou a escrever qualquer coisa, buscando em frases soltas o que sua mente queria tanto dizer. Seu corpo estava inquieto, precisava falar alguma coisa. “Falar o que?”, Maurício repetia “Falar o que?”. Era tudo silêncio e o fluxo de pensamentos atravessava sua mente como aves de rapina. Ele mal conseguia formar uma frase e, por mil vezes, teve o forte desejo de sacudir suas folhas pela janela; aquelas suas horas sem sentido…
Ah, Maurício, se eu tivesse o poder, eu gostaria muito de te dar uma resposta e acabar essa história de pensamento, fechando a porta do seu consciente com uma moral de história para acalmá-lo só por essa noite. Mas parece que, como você, eu também escrevo como quem abre uma porta, como quem solta uma pipa podendo vê-la no céu, mas sem nunca mais alcançá-la. Pois é, Maurício, vou te deixar aí, minha pipa, pairando contra o tempo baqueado dentro do meu caderno. Vou logo te avisando que não te abandonei, que te vejo todo dia e me pergunto o que será de ti (sempre te desejando o melhor), mas não me peça, meu garoto, não me peça por diretrizes, por combustões de sentimento. Sei que colocar esses pingos que você pontua no caderno serão alimento para o esquecimento, mas nunca consigo pôr um ponto final em tuas frases. Só faço lançar mais pipas, mais pipas e, se te serve de consolo, peço sempre pra alguém olhar você por mim (pra que possamos comparar a tua cor, teus movimentos, teus caminhos). No fim de tudo algumas pipas vão embora, mas eu sei que você, Maurício, fica e bem perto de mim; brincando como sempre, apenas brincando e eu com toda a tontice, feito uma mãe-solteira-de-filho-único, te guardo como se você fosse tão frágil, tão inocente... Quanta bobagem minha. Você sempre vai com o vento e eu sempre vou te seguindo... A matéria da pipa em ser pipa. Tão bonito esse nome, “pipa”...Vamos ficar com esse nome para nós, Maurício, e barulho de pipa brincando as nossas horas.

Recife, Outubro de 2005