quarta-feira, 5 de novembro de 2014

"A vida & as opiniões do barnabé guilherme gontijo flores servidor do estado", de Guilherme Gontijo Flores



1.

    Não fui criado para o filho certo
nem para o único
& mesmo assim em algo o sou
ainda que isso nada diga
de mim de outro estulto qualquer
eu não me congratulo
pois cada meu fracasso
não fora antes planejado
porém não disse nada inusitado
& em cada passo armado
o risco de cair
se deu como a delícia
por  descumprir a sina ignorada
    O tédio não foi bom
nem mau nem meu nem médio
& confesso que nunca
pensei pular do prédio
para espetáculo da turba
que ajuntada na pressa
logo estaria estupefatamente
desinteressada
    Eu pensei no passado
aquela velha igreja por exemplo
eu muito mais me a adentro
do que alguma vez
pisei no seu mistério
& cada templo em que passei
mais parecia a casa
envelhecida dentro de um museu
como aquela matriushka que nunca tive
porque estava em outra parte
falseando outra história
    Eu não sorvi do sangue das vitórias
eu nem mesmo as contei
em nada fui desapontado
& creio não desapontei
na tarefa tão árdua de um abraço
eu recuava ao tempo da família
dos quadros apagados
dos nomes sem memória
& de um brasão talvez
perdido nas gavetas inventadas
de algum antepassado
que hoje sumiu sem deixar traço
& sem abrir no espaço
uma ferida falsa
à qual eu me apegasse
toda história é cansaço

sábado, 23 de agosto de 2014

João Cabral de Melo Neto - Trecho de "Claros Varones"

"Semanas, Severino Borges
vivia estreito qual num pote.
        Num pote por estreito:
        porque se pote, seco.

Só quando vinha um pastoril
rompia o pote que o vestiu
         E romperia um dique,
         dado que era a atrizes.

Dava-se então noites seguidas,
e literalmente, às artistas.
         E se dava: primeiro
         jogando-se em dinheiro.

Depois, quando jogara todo,
dava-se nas roupas do corpo,
         jogando-as, peça a peça,
         querendo ir numa delas.

Vendo que tudo o que jogara
não o pôde levar de embrulhada,
         nu, dá-se sem queixa
         à polícia que o leva.

Vai triste, e ninguém nunca sabe
se por saber dar mas não, dar-se,
        ou por não ser livre
        de poder repartir-se."

sábado, 2 de agosto de 2014

Raymond Queneau – Poème pour la postérité (1948)

"Esta noite,
e se eu escrevesse um poema para a posteridade?
Droga!
Que grande ideia

Me sinto confiante
Lá vou eu!
E, para a posteridade, eu digo:
Merda! Merda de novo!
Merda 3 vezes!
Sem dúvida, enganei a posteridade,
que esperava seu poema.

Então, acabou"

Texto encontrado no site: http://devaneiosinconscientes.blogspot.com.br/2013/03/raymond-queneau-poeme-pour-la-posterite.html

quarta-feira, 23 de julho de 2014

"Searching for Shoes", por Courtney Campbell



"she wanted to try on her mother's shoes so
she opened the closet.
in the closet she found hard pursed lips and
a voice of steel.
a forehead crease and polite gesture. she found
a gravel pit way back in the back.
a pile of rocks. a reservoir. a conveyer belt. a
steady drum-dee-dee-dum of logic.
behind the logic a pair of boots. behind the
boots a pill to help her sleep.
she wanted to try on her mother's shoes and
found a birth certificate bent at the corners.
a mimeograph. a name and then another. found
a memory on a hanger.
found a prom ticket that smelled of bobby pins. she
found a twitch under a left eye and an acorn-
shaped expression. she wanted to try on her
mother's shoes. she stepped into the closet.
she found a closet in the closet. in the closet
she found a trunk.
she found a box inside the trunk. inside the box
she found love letters. in the letters
little words of cedar ink and salt water. in the
words little curves shy and yellow.
in the curves she found a shoreline. in the
shoreline she found a sand castle.
on the castle there was a door. through the door,
to the right was a hall.
the first door on the left was the bathroom. in the
second door an empty bedroom.
in the bedroom a closet. in the closet, she found
her mother searching for her mother's shoes"

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Esse punhado de ossos __ Ivan Junqueira


"Esse punhado de ossos que, na areia,
alveja e estala à luz do sol a pino
moveu-se outrora, esguio e bailarino,
como se move o sangue numa veia.
Moveu-se em vão, talvez, porque o destino
lhe foi hostil e, astuto, em sua teia
bebeu-lhe o vinho e devorou-lhe à ceia
o que havia de raro e de mais fino.
Foram damas tais ossos, foram reis,
e príncipes e bispos e donzelas,
mas de todos a morte apenas fez
a tábua rasa do asco e das mazelas.
E ai, na areia anônima, eles moram.
Ninguém os escuta. Os ossos choram."

Talvez o vento saiba __ Ivan Junqueira

"Talvez o vento saiba dos meus passos,
das sendas que os meus pés já não abordam,
das ondas cujas cristas não transbordam
senão o sal que escorre dos meus braços.
As sereias que ouvi não mais acordam
à cálida pressão dos meus abraços,
e o que a infância teceu entre sargaços
as agulhas do tempo já não bordam.
Só vejo sobre a areia vagos traços
de tudo o que meus olhos mal recordam
e os dentes, por inúteis, não concordam
sequer em mastigar como bagaços.
Talvez se lembre o vento desses laços
que a dura mão de Deus fez em pedaços."

terça-feira, 24 de junho de 2014

Manuel Bandeira, «Profundamente»

"Quando ontem adormeci
Na noite de São João
Havia alegria e rumor
Estrondos de bombas luzes de Bengala
Vozes cantigas e risos
Ao pé das fogueiras acesas.

No meio da noite despertei
Não ouvi mais vozes nem risos
Apenas balões
Passavam errantes
Silenciosamente
Apenas de vez em quando
O ruído de um bonde
Cortava o silêncio
Como um túnel.
Onde estavam os que há pouco
Dançavam
Cantavam
E riam
Ao pé das fogueiras acesas?
– Estavam todos dormindo
Estavam todos deitados
Dormindo
Profundamente
*
Quando eu tinha seis anos
Não pude ver o fim da festa de São João
Porque adormeci
Hoje eu não ouço mais as vozes daquele tempo
Minha avó
Meu avô
Totônio Rodrigues
Tomásia
Rosa
Onde estão todos eles?
– Estão todos dormindo
Estão todos deitados
Dormindo
Profundamente."

quinta-feira, 5 de junho de 2014

Labirintite - Henrique Wagner

Labirintite

Amo apenas meu irmão,
mas não qualquer irmão:
amo o mais amável, o mais frágil, o caçula.
Amo ainda a mulher por quem, atualmente, me sinto apaixonado.
Amo essa mulher, e mais nenhuma no momento.
 Amo meu pai, porque ele me foi amável sempre.
E amo meu filho,
 porque ele ainda não cresceu,
 porque ele ainda não tem a labirintite que eu tenho.
 Quanto a Cristo, não, não o amo.
Amo apenas meu irmão.
Não o próximo, mas o caçula.

Henrique Wagner

terça-feira, 3 de junho de 2014

POEMINHA PREGUIÇOSO __ Marcelino Freire

"só você
não me dá
preguiça.
só você
não me
enguiça.
só você
me faz abrir
o olho.
feito um olho
de cachorro
de olho
nos passos
do dono.
só você
me levanta
deste marasmo
me salva
deste abandono.
só você
e eu
teremos
uma razão
para viver.
para sempre
um para
o outro
escravos
do mesmo
cansaço.
até
morrer."

quinta-feira, 22 de maio de 2014

Dia Dez - Matilde Campilho


sexta-feira, 11 de abril de 2014

Sob o muro rabiscado – Eugenio Montale

"Sobre o muro rabiscado
que dá sombra a alguns assentos,
o arco do céu aparece
acabado.

Quem lembra ainda o fogo que ardeu
impetuoso
nas veias do mundo: -- num repouso
frio as formas dispersam-se, opacas.
Reverei amanhã os banquinhos
e a muralha e a rua de cada dia.
No futuro que se abre as manhãs
ancoram como os barcos na baía."


Eugenio Montale, trad. de Renato Xavier

domingo, 16 de março de 2014

Dois ou Três Almoços, uns Silêncios (Fragmentos disso que chamamos de "minha vida") - Caio Fernando Abreu

Há alguns dias, Deus — ou isso que chamamos assim, tão descuidadamente, de Deus —, enviou-me certo presente ambíguo: uma possibilidade de amor. Ou disso que chamamos, também com descuido e alguma pressa, de amor. E você sabe a que me refiro.

Antes que pudesse me assustar e, depois do susto, hesitar entre ir ou não ir, querer ou não querer — eu já estava lá dentro. E estar dentro daquilo era bom. Não me entenda mal — não aconteceu qualquer intimidade dessas que você certamente imagina. Na verdade, não aconteceu quase nada. Dois ou três almoços, uns silêncios. Fragmentos disso que chamamos, com aquele mesmo descuido, de "minha vida". Outros fragmentos, daquela "outra vida". De repente cruzadas ali, por puro mistério, sobre as toalhas brancas e os copos de vinho ou água, entre casquinhas de pão e cinzeiros cheios que os garçons rapidamente esvaziavam para que nos sentíssemos limpos. E nos sentíamos.

Por trás do que acontecia, eu redescobria magias sem susto algum. E de repente me sentia protegido, você sabe como: a vida toda, esses pedacinhos desconexos, se armavam de outro jeito, fazendo sentido. Nada de mal me aconteceria, tinha certeza, enquanto estivesse dentro do campo magnético daquela outra pessoa. Os olhos da outra pessoa me olhavam e me reconheciam como outra pessoa, e suavemente faziam perguntas, investigavam terrenos: ah você não come açúcar, ah você não bebe uísque, ah você é do signo de Libra. Traçando esboços, os dois. Tateando traços difusos, vagas promessas.

Nunca mais sair do centro daquele espaço para as duras ruas anônimas. Nunca mais sair daquele colo quente que é ter uma face para outra pessoa que também tem uma face para você, no meio da tralha desimportante e sem rosto de cada dia atravancando o coração. Mas no quarto, quinto dia, um trecho obsessivo do conto de Clarice Lispector "Tentação" na cabeça estonteada de encanto: "Mas ambos estavam comprometidos. Ele, com sua natureza aprisionada. Ela, com sua infância impossível". Cito de memória, não sei se correto. Fala no encontro de uma menina ruiva, sentada num degrau às três da tarde, com um cão basset também ruivo, que passa acorrentado. Ele pára. Os dois se olham. Cintilam, prometidos. A dona o puxa. Ele se vai. E nada acontece.

De mais a mais, eu não queria. Seria preciso forjar climas, insinuar convites, servir vinhos, acender velas, fazer caras. Para talvez ouvir não. A não ser que soprasse tanto vento que velejasse por si. Não velejou. Além disso, sem perceber, eu estava dentro da aprendizagem solitária do não-pedir. Só compreendi dias depois, quando um amigo me falou — descuidado, também — em pequenas epifanias. Miudinhas, quase pífias revelações de Deus feito jóias encravadas no dia-a-dia.

Era isso — aquela outra vida, inesperadamente misturada à minha, olhando a minha opaca vida com os mesmos olhos atentos com que eu a olhava: uma pequena epifania. Em seguida vieram o tempo, a distância, a poeira soprando. Mas eu trouxe de lá a memória de qualquer coisa macia que tem me alimentado nestes dias seguintes de ausência e fome. Sobretudo à noite, aos domingos. Recuperei um jeito de fumar olhando para trás das janelas, vendo o que ninguém veria.

Atrás das janelas, retomo esse momento de mel e sangue que Deus colocou tão rápido, e com tanta delicadeza, frente aos meus olhos há tanto tempo incapazes de ver: uma possibilidade de amor. Curvo a cabeça, agradecido. E se estendo a mão, no meio da poeira de dentro de mim, posso tocar também em outra coisa. Essa pequena epifania. Com corpo e face. Que reponho devagar, traço a traço, quando estou só e tenho medo. Sorrio, então. E quase paro de sentir fome.

sábado, 15 de março de 2014

Regolito – Adri Aleixo


Quando saio,
nunca sei aonde vou
me perco entre as ideias do caminho.
Meus pés querem céu
meu corpo, um canto ribeirinho.
Se volto, é porque um astro
me prende ao chão.

O antúrio sempre me cumprimenta à porta.

Regolito – Adri Aleixo

quarta-feira, 12 de março de 2014

A caballo – Tomi Lebrero

"Hojas brillantes estan por llegar
Cuando a caballo me vean pasar
Voy por trigales y campos de miel
Tengo un sombrero que es de coronel

Y voy en busca de conquistas
Libertador de la patria
Cruzando toda la provincia, vida ay!
Pero con tal mala pata

Que aunque lo intente no puedo olvidar
Todo el cariño que me supo dar
Dejo de lado a esa mujer
Hago un fortin como el gran san martin

Exploracion y campaña
Todo me sabe a patraña
Siempre siempre el amor ha de volver
Nunca voy a aprender

Si bajo un tala me ven descansar
No me despierten pues quiero soñar
Que al besarte me vuelvo otra vez
A nuestro amor y soy niño otra vez"

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

BARROCO TROPICAL (José Eduardo Agualusa/Ricardo Cruz)



O amor é inútil: luz das estrelas
a ninguém aquece ou ilumina
e se nos chama, a chama delas
logo no céu lasso declina.

O amor é sem préstimo: clarão
na tempestade, depressa se apaga
e é maior depois a escuridão,
noite sem fim, vaga após vaga.

O amor a ninguém serve, e todavia
a ele regressamos, dia após dia
cegos por seu fulgor, tontos de sede
nos damos sem pudor em sua rede.

O amor é uma estação perigosa:
rosa ocultando o espinho,
espinho disfarçado de rosa,
a enganosa euforia do vinho.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Minhas Lágrimas – Caetano Veloso


desolação de Los Angeles,
a Baixa Califórnia e uns desertos ilhados por
um pacífico turvo
a asa do avião
o tapete cor de poeira de dentro do avião
a lembrança do branco de uma página
nada serve de chão
onde caiam minhas lágrimas


quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Oração natural – Donizete Galvão

Oração natural
Donizete Galvão

Fique atento
ao ritmo,
aos movimentos
do peixe no anzol.
Fique atento
às falas 
das pessoas
que só dizem
o necessário.
Fique atento
aos sulcos
de sal
de sua face.
Fique atento
aos frutos tardios
que pendem
da memória.
Fique atento
às raízes
que se trançam
em seu coração.
Fique atento.
A atenção
é sua forma natural 
de oração.

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

The More Loving one/

"The More Loving One"

Looking up at the stars, I know quite well
That, for all they care, I can go to hell,
But on earth indifference is the least
We have to dread from man or beast.

How should we like it were stars to burn
With a passion for us we could not return?
If equal affection cannot be,
Let the more loving one be me.

Admirer as I think I am
Of stars that do not give a damn,
I cannot, now I see them, say
I missed one terribly all day.

Were all stars to disappear or die,
I should learn to look at an empty sky
And feel its total dark sublime,
Though this might take me a little time.

W. H. Auden



terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Título em Branco

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O farol piscava verde. Atravessou. A vista cheia de verdes pontilhados. O bonequinho vivo, mais vivo que ele. Piscava, frenético. O verde pestanejava gentil e comandante: passe. Não exigia, mas advertia instilando culpa. Passe. O vulto de sapatos pretos atravessou a rua.
Lembrou-se que Carla havia sugerido pintar a parede de verde.
E Saulo, o arquiteto, disse que verde pode ser bom, mas é bom ter cuidado na escolha. Pra escolher um verde elegante.
Marcel deixou escapulir a palavra roxo.
Mas roxo? De jeito nenhum.
Estavam certos, Marcel nem entendia o roxo.
No branco-pálido do quarto, foi recebido pelo caramelo-fosco do cão
Os livros espalhados pelo metal esmaltado da mesa
O edredom lilás desgrenhado de sua avó
A madeirinha marrom das estantes e da sapateira, silenciosa como árvores mortas.
No teto, luzinhas chinesas circunscritas de papel em forma de cilindro – também branco. E o quarto continuava pálido, mesmo quando aceso.
Ali era o estilo não-estar. Ignorado pela moda. Nunca sequer esteve em alta ou em baixa.
No sertão imenso, naquela aridez ora fria ora quente do avesso de Marcel, nada excedia os limites além da própria imensidão de pedrinhas. À qual ele não sabia impor freios, encher de caju, vinho, morango.
O quarto, a vida, a rua em que se põe a mão eram um detalhe naquelas brutas lonjuras onde a voz viaja sozinha e limpa por séculos.
E naquele quarto, o violão escondido debaixo de um baú inóspito, o violão esquecido como coisa qualquer. No violão ele um dia entendera as cores.
Na parede não havia sequer manchinha de caneta, marcas de murro ou até risco de um móvel cuja quina arranhara sem querer. O prato de um lado só. A cartola furada que não tinha coelho nem nada, só o outro lado mostrando o lado vazio.
O cãomarelo correu em busca da bolinha cor de rosa, mas, entediado, logo adormeceu em sua caminha rosa encardido, rosa murcha.
Segunda-feira vinha um sofá “kappa” de dois lugares. Reto como um tijolo e pesado como concreto.
Ele teve dúvidas se deveria escolher a cor azul marinho bic ou roxo ipê. Ou cinza-torto? Escolheu preto porque preto não suja.
Essa coisa de cor, esses objetos que não têm linhas retas, mas constelares, que querem dizer? Quando falam entre si?
Ele não entendia o amarelo dos girassóis de sua avó. Que eram um caldeirão de amarelo, eram pólen borrando os cílios, mel besuntando o rosto. Um mar flavescente evaporando abelhas e sol sob o céu adornado de azul império-celeste.
Ou o carmim do batom de Cecília.
Não sabia se achava bonito, se achava feio. Aquela moça, mocinha, naquela vermelhidão toda, acesa. Chama.
As cores não tem cerca. Por isso ele preferia o branco. Branco não relampeja. Branco não tem veia. Branco não sangra. Não passa vergonha. Não exagera. Apenas suja com facilidade, não tem como se esconder.
Ele era, ao menos, um homem quase equilátero, quase sincero.
Atravessou a rua. E olhando para o chão, sempre distraído, naquele cinza-               -cimento de cinzel, a rua petrolínea sendo atravessada por carros pretos, prata e brancos.
O ouvido direito dele ouvindo, o esquerdo abafando.
E os passos tortos, tortinhos, eram a única denúncia – de que havia um violão enfiado em um baú verdimundo.