segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

BARROCO TROPICAL (José Eduardo Agualusa/Ricardo Cruz)



O amor é inútil: luz das estrelas
a ninguém aquece ou ilumina
e se nos chama, a chama delas
logo no céu lasso declina.

O amor é sem préstimo: clarão
na tempestade, depressa se apaga
e é maior depois a escuridão,
noite sem fim, vaga após vaga.

O amor a ninguém serve, e todavia
a ele regressamos, dia após dia
cegos por seu fulgor, tontos de sede
nos damos sem pudor em sua rede.

O amor é uma estação perigosa:
rosa ocultando o espinho,
espinho disfarçado de rosa,
a enganosa euforia do vinho.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Minhas Lágrimas – Caetano Veloso


desolação de Los Angeles,
a Baixa Califórnia e uns desertos ilhados por
um pacífico turvo
a asa do avião
o tapete cor de poeira de dentro do avião
a lembrança do branco de uma página
nada serve de chão
onde caiam minhas lágrimas