sábado, 23 de agosto de 2014

João Cabral de Melo Neto - Trecho de "Claros Varones"

"Semanas, Severino Borges
vivia estreito qual num pote.
        Num pote por estreito:
        porque se pote, seco.

Só quando vinha um pastoril
rompia o pote que o vestiu
         E romperia um dique,
         dado que era a atrizes.

Dava-se então noites seguidas,
e literalmente, às artistas.
         E se dava: primeiro
         jogando-se em dinheiro.

Depois, quando jogara todo,
dava-se nas roupas do corpo,
         jogando-as, peça a peça,
         querendo ir numa delas.

Vendo que tudo o que jogara
não o pôde levar de embrulhada,
         nu, dá-se sem queixa
         à polícia que o leva.

Vai triste, e ninguém nunca sabe
se por saber dar mas não, dar-se,
        ou por não ser livre
        de poder repartir-se."

sábado, 2 de agosto de 2014

Raymond Queneau – Poème pour la postérité (1948)

"Esta noite,
e se eu escrevesse um poema para a posteridade?
Droga!
Que grande ideia

Me sinto confiante
Lá vou eu!
E, para a posteridade, eu digo:
Merda! Merda de novo!
Merda 3 vezes!
Sem dúvida, enganei a posteridade,
que esperava seu poema.

Então, acabou"

Texto encontrado no site: http://devaneiosinconscientes.blogspot.com.br/2013/03/raymond-queneau-poeme-pour-la-posterite.html