Andava pela casa e o que lhe incomodava eram os ladrilhos do chão; cerâmica fria que não acolhia seus espaços. E tinha que ser entre quadrados e arquiteturas que ela imaginava os circos de tendas disformes. Mas não queria pensar muito nisso, pensar muito dói - Cabeça também fica cansada. E por trás das grades de sua varanda, o dia estava frio e tranqüilo; pensou em ficar ali ante as grades por mais alguns instantes, quem sabe a vida inteira, e quem sabe pintar toda a sua casa com os pés rapidinhos e rodopiantes que andavam como se quisessem bater no Japão. Mas era respirar fundo e engolir seus filhas da puta e vá se foder. Ela também não gostava de palavrões, mas foi o que ouviu dentro de si e entre seus pais.
Andar pela casa e pelo centro de sua cidade, ver os apetrechos pendurados em todos os lugares e o silêncio era bom também, mas o presente sempre gritava. Então, mandou que ele calasse a boca. Shhhhhhhhhhhhhh. Não precisava de mais nada naquele momento, e se quisesse dormir, deveria ter o poder de fazer isso sim.
E a vida era bem facinha, como continha de 2 mais 2, como dois patinhos na lagoa. Quem teve dez anos ia lhe entender. No entanto, ninguém precisa mais ter dez anos pra entender nada... Tá tudo aí, encaixado no chão, com cimento e a cor marrom. Preferiu ficar mais um pouco na cadeira de balanço, tocando a ponta dos pés na frieza da cerâmica; parafrente paratrás parafrente paratrás. Ela não queria chegar a lugar algum, estava bastante confortável com o silêncio e com as suas viagens na maionese. E agora, taraaaam! Purumpá! : silêncio. Como quando chegava da hora do recreio e baixava a cabeça sobre a banca ouvindo uma musiquinha de um homem chamado Bach: aquilo que era silêncio mesmo. Lembrava do corpo suado e da respiração ofegante, pensa: a aula já vai começar- respira-, pensa: mas que droga,-respira- pensa: melhor aproveitar cada segundo desse piano com som engraçado- respira, respira, respira-. O pulmão não tinha mais capacidade para tanta fumaça e vento, ela tinha que baixar a cabeça e ouvir a musiquinha, o toque de recolher. Recolha-se, recolha-se que nem flor até voltar a ser semente e ninguém precisa nascer ou morrer...sementes nascem ou não. E se olhassem bem nos seus olhos, bem naqueles olhinhos pidões, iriam ver que era apenas uma menina, uma criança às voltas com preocupações de criança, com a imaginação sem leito nem ponto de origem.
Então, às vezes ficava ficar ali balançando no vento e que não a incomodassem! Não, agora era ela a semente das voltas dos recreios. Em que pensava? Na pipa. No nome da pipa. Nos dois pés e um ipa. Pipa. E se a seguissem, e se os ladrilhos e concreto a seguissem...Não importava, não importava como ela iria sair da cadeira de balanço. Respirar o pouco que podia, oxigênio e ácaros...sem filtrar nada, sem entender nada. Que fossem na frente Bach e os coleguinhas da escola, ela ainda não estava pronta para a quarta série, ela não estava pronta para nada. E quem está? Não apressa que ela vai andar! Não apressa....a aula de matemática ainda não começou. E se começou, ela não vai entender nada, deixa ela de cabeça baixa...
Recife, 19/10/2005
sábado, 16 de junho de 2007
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