quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Invictus

"Do fundo desta noite que persiste
A me envolver em breu - eterno e espesso,
A qualquer deus - se algum acaso existe,
Por mi’alma insubjugável agradeço.

Nas garras do destino e seus estragos,
Sob os golpes que o acaso atira e acerta,
Nunca me lamentei - e ainda trago
Minha cabeça - embora em sangue - ereta.

Além deste oceano de lamúria,
Somente o Horror das trevas se divisa;
Porém o tempo, a consumir-se em fúria,
Não me amedronta, nem me martiriza.

Por ser estreita a senda - eu não declino,
Nem por pesada a mão que o mundo espalma;
Eu sou dono e senhor de meu destino;
Eu sou o comandante de minha alma."

William E Henley

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Parolagem da Vida - Carlos Drummond



Parolagem da Vida

Como a vida muda.
Como a vida é muda.
Como a vida é nuda.
Como a vida é nada.
Como a vida é tudo.
Tudo que se perde
mesmo sem ter ganho.
Como a vida é senha
de outra vida nova
que envelhece antes
de romper o novo.
Como a vida é outra
sempre outra, outra
não a que é vivida.
Como a vida é vida
ainda quando morte
esculpida em vida.
Como a vida é forte
em suas algemas.
Como dói a vida
quando tira a veste
de prata celeste.

Como a vida é isto
misturado àquilo.
Como a vida é bela
sendo uma pantera
de garra quebrada.
Como a vida é louca
estúpida, mouca
e no entanto chama
a torrar-se em chama.
Como a vida chora
de saber que é vida
e nunca nunca nunca
leva a sério o homem,
esse lobisomem.
Como a vida ri
a cada manhã
de seu próprio absurdo
e a cada momento
dá de novo a todos
uma prenda estranha.
Como a vida joga
de paz e de guerra
povoando a terra
de leis e fantasmas.
Como a vida toca
seu gasto realejo
fazendo da valsa
um puro Vivaldi.

Como a vida vale
mais que a própria vida
sempre renascida
em flor e formiga
em seixo rolado
peito desolado
coração amante.
E como se salva
a uma só palavra
escrita no sangue
desde o nascimento:
amor, vidamor!

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Reto

Mantenha-se
Com a mira no sol

Intempéries não devem lhe resignar
Nem embrulhar seu destino
E engasgá-lo na garganta

Tudo ainda pode dar certo.

Risco Zero

O seu corpo acostumado
A ser submarino velho
Que nunca está pronto para entrar no mar

Arrefecido ao risco zero
Que zera todas as possibilidades
Todos os desejos
Todas as virtudes

E salve-se quem puder na terra firme onde nada é possível
Além do possível.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Trampolim - Caetano Veloso

Sem olhar, sem respirar
Sem rir, sem pensar, sem falar
Só te provo um lugar
Qualquer piscina ou mar de Amaralina
O amor não é mais do que o ato
Da gente ficar
No ar antes de mergulhar
Antes de mergulhar
Dance, dance, cante, cante
Muito alto, sem medo de tudo
De nada, sem medo de errar
Vejo uma boca vermelhar galhar
A paixão não é mais do que o ato
Da gente ficar
No ar antes de mergulhar
Antes de mergulhar


Sem olhar, sem respirar
Sem rir, sem pensar, sem falar
Só te provo um lugar
Qualquer piscina ou mar de Amaralina
O amor não é mais do que o ato
Da gente ficar
No ar antes de mergulhar
Antes de mergulhar
Dance, dance, cante, cante
Muito alto, sem medo de tudo
De nada, sem medo de errar
Vejo uma boca vermelhar galhar
A paixão não é mais do que o ato
Da gente ficar
No ar antes de mergulhar
Antes de mergulhar

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Minhas palavras

Minhas palavras
Não podem ser meras palavras

Elas têm de atuar
Com os olhos
Com o pensamento
Como o coração

Não podem passar despercebidas
Nem vazias de sentido

Se me perguntam a razão
Sei bem o porquê
Mas duvido que muitos me entendam
O que eu digo quando digo
Que as palavras
São tudo o que tenho
Tudo o que tenho
Tudo
o que tenho

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Me Voy

"No voy a llorar y decir que no merezco eso
Es probable que lo merezco, pero no lo quiero
y por eso me voy"

domingo, 7 de fevereiro de 2010

A vida como ela é

o quadro

O maquinista
Maquinava, maquinava e maquinava
Em um quadro preto e branco

Vivia na Inglaterra
Filho de uma ilha industrial
E o vento frio rachava seu bigode ao meio e o penteava

Uú Uú
Dizia o seu pequeno trem
Enquanto ele se deslocava entre uma mina e outra

Um trabalhador
Rudimentar maquinista do vapor
Entre uma mina e outra

Depois de mais de cem anos
O trenzinho descarrilou
E o maquinista foi jogado para fora de seu trem

Furou a tela do quadro e caiu no chão da sala

Olhando a tela a distância
Viu que nada se movia
Havia apenas um pequeno buraco que marcava o acidente
E o trem caído no chão

As minas continuavam lá
O sol escuro em pedra

A vida parada em preto e branco
E dele não sentia falta

O maquinista não entendeu
Do que consistiu a sua vida

Não fosse pelo acidente
Jamais saberia para onde estava indo.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Fé cega, Faca Amolada

"Agora não pergunto mais pra onde vai a estrada
Agora não espero mais aquela madrugada
Vai ser, vai ser, vai ter de ser, vai ser faca
amolada
O brilho cego de paixão e fé, faca amolada."

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Meu Deus

Meu Deus

Que me sinto tão desconfortável em minha pele
Tão inquieta com o que faço do que sou

Que tenho de acolher minhas falhas
Por não saber silenciar minha alma

Sei apenas ser outra diante do mundo
Por não saber ser inteira e perdoada

Que não posso corrigir-me
Neste exato momento em que preciso

E tenho de esperar
Esperar
Esperar
Pelo tempo:
Em que consiga mordê-lo e o rasguá-lo, comendo-o todo para mim
Sem admitir mais promessas, palavras longíquas, olhares duvidosos

Porém agora continuo no ponto antigo de tantas questões
E ainda maltrato quem amo
Pelo mal que há em mim

Ainda maltrato a mim mesma
Por saber do que não gostaria de sentir

Resguardo-me em uma conchinha
Fecho-me sem respirar

Que nem mais uma palavra seja dita
Nem mais um gesto
Para consolar a minha inveja ou minha autodepreciação

Que eu faça meu próprio caminho
Assim do jeito que desejo
Assim do jeiro que nasci para ser:
inteira. caminhante. forte. certa.

Que eu me alcance.
Que eu me alcance.
Que eu me alcance.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Um índio




"Virá, impávido que nem Muhammed Ali, virá que eu vi
Apaixonadamente como Peri, virá que eu vi
Tranqüilo e infalível como Bruce Lee, virá que eu vi
O axé do afoxé, filhos de Ghandi, virá

E aquilo que nesse momento se revelará aos povos
Surpreenderá a todos, não por ser exótico
Mas pelo fato de poder ter sempre estado oculto
Quando terá sido o óbvio"