sexta-feira, 17 de abril de 2015

One Last Poem For Richard by Sandra Cisneros

December 24th and we’re through again.
This time for good I know because I didn’t
throw you out — and anyway we waved.
No shoes. No angry doors.
We folded clothes and went
our separate ways.
You left behind that flannel shirt
of yours I liked but remembered to take
your toothbrush. Where are you tonight?
Richard, it’s Christmas Eve again
and old ghosts come back home.
I’m sitting by the Christmas tree
wondering where did we go wrong.
Okay, we didn’t work, and all
memories to tell you the truth aren’t good.
But sometimes there were good times.
Love was good. I loved your crooked sleep
beside me and never dreamed afraid.
There should be stars for great wars
like ours. There ought to be awards
and plenty of champagne for the survivors.
After all the years of degradations,
the several holidays of failure,
there should be something
to commemorate the pain.
Someday we’ll forget that great Brazil disaster.
Till then, Richard, I wish you well.
I wish you love affairs and plenty of hot water,
and women kinder than I treated you.
I forget the reason, but I loved you once,
remember?
Maybe in this season, drunk
and sentimental, I’m willing to admit
a part of me, crazed and kamikaze,
ripe for anarchy, loves still.

segunda-feira, 23 de março de 2015

Johnny Cash - Pocahontas (Neil Young cover) Fan music video







Aurora borealis
The icy sky at night
Paddles cut the water
In a long and hurried flight
From the white man
To the fields of green
And the homeland
We've never seen

They killed us in our tepee
And they cut our women down
They might have left some babies
Cryin' on the ground
But the firesticks
And the wagons come
And the night falls
On the setting sun

They massacred the buffalo
Kitty corner from the bank
The taxis run across my feet
And my eyes have turned to blanks
In my little box
At the top of the stairs
With my indian rug
And a pipe to share.

I wish a was a trapper
I would give thousand pelts
To sleep with pocahontas
And find out how she felt
In the mornin'
On the fields of green
In the homeland
We've never seen.

And maybe marlon brando
Will be there by the fire
We'll sit and talk of hollywood
And the good things there for hire
Like the astrodome
And the first tepee
Marlon brando, pocahontas and me
Marlon brando, pocahontas and me
Pocahontas.


quarta-feira, 5 de novembro de 2014

"A vida & as opiniões do barnabé guilherme gontijo flores servidor do estado", de Guilherme Gontijo Flores



1.

    Não fui criado para o filho certo
nem para o único
& mesmo assim em algo o sou
ainda que isso nada diga
de mim de outro estulto qualquer
eu não me congratulo
pois cada meu fracasso
não fora antes planejado
porém não disse nada inusitado
& em cada passo armado
o risco de cair
se deu como a delícia
por  descumprir a sina ignorada
    O tédio não foi bom
nem mau nem meu nem médio
& confesso que nunca
pensei pular do prédio
para espetáculo da turba
que ajuntada na pressa
logo estaria estupefatamente
desinteressada
    Eu pensei no passado
aquela velha igreja por exemplo
eu muito mais me a adentro
do que alguma vez
pisei no seu mistério
& cada templo em que passei
mais parecia a casa
envelhecida dentro de um museu
como aquela matriushka que nunca tive
porque estava em outra parte
falseando outra história
    Eu não sorvi do sangue das vitórias
eu nem mesmo as contei
em nada fui desapontado
& creio não desapontei
na tarefa tão árdua de um abraço
eu recuava ao tempo da família
dos quadros apagados
dos nomes sem memória
& de um brasão talvez
perdido nas gavetas inventadas
de algum antepassado
que hoje sumiu sem deixar traço
& sem abrir no espaço
uma ferida falsa
à qual eu me apegasse
toda história é cansaço

sábado, 23 de agosto de 2014

João Cabral de Melo Neto - Trecho de "Claros Varones"

"Semanas, Severino Borges
vivia estreito qual num pote.
        Num pote por estreito:
        porque se pote, seco.

Só quando vinha um pastoril
rompia o pote que o vestiu
         E romperia um dique,
         dado que era a atrizes.

Dava-se então noites seguidas,
e literalmente, às artistas.
         E se dava: primeiro
         jogando-se em dinheiro.

Depois, quando jogara todo,
dava-se nas roupas do corpo,
         jogando-as, peça a peça,
         querendo ir numa delas.

Vendo que tudo o que jogara
não o pôde levar de embrulhada,
         nu, dá-se sem queixa
         à polícia que o leva.

Vai triste, e ninguém nunca sabe
se por saber dar mas não, dar-se,
        ou por não ser livre
        de poder repartir-se."

sábado, 2 de agosto de 2014

Raymond Queneau – Poème pour la postérité (1948)

"Esta noite,
e se eu escrevesse um poema para a posteridade?
Droga!
Que grande ideia

Me sinto confiante
Lá vou eu!
E, para a posteridade, eu digo:
Merda! Merda de novo!
Merda 3 vezes!
Sem dúvida, enganei a posteridade,
que esperava seu poema.

Então, acabou"

Texto encontrado no site: http://devaneiosinconscientes.blogspot.com.br/2013/03/raymond-queneau-poeme-pour-la-posterite.html

quarta-feira, 23 de julho de 2014

"Searching for Shoes", por Courtney Campbell



"she wanted to try on her mother's shoes so
she opened the closet.
in the closet she found hard pursed lips and
a voice of steel.
a forehead crease and polite gesture. she found
a gravel pit way back in the back.
a pile of rocks. a reservoir. a conveyer belt. a
steady drum-dee-dee-dum of logic.
behind the logic a pair of boots. behind the
boots a pill to help her sleep.
she wanted to try on her mother's shoes and
found a birth certificate bent at the corners.
a mimeograph. a name and then another. found
a memory on a hanger.
found a prom ticket that smelled of bobby pins. she
found a twitch under a left eye and an acorn-
shaped expression. she wanted to try on her
mother's shoes. she stepped into the closet.
she found a closet in the closet. in the closet
she found a trunk.
she found a box inside the trunk. inside the box
she found love letters. in the letters
little words of cedar ink and salt water. in the
words little curves shy and yellow.
in the curves she found a shoreline. in the
shoreline she found a sand castle.
on the castle there was a door. through the door,
to the right was a hall.
the first door on the left was the bathroom. in the
second door an empty bedroom.
in the bedroom a closet. in the closet, she found
her mother searching for her mother's shoes"

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Esse punhado de ossos __ Ivan Junqueira


"Esse punhado de ossos que, na areia,
alveja e estala à luz do sol a pino
moveu-se outrora, esguio e bailarino,
como se move o sangue numa veia.
Moveu-se em vão, talvez, porque o destino
lhe foi hostil e, astuto, em sua teia
bebeu-lhe o vinho e devorou-lhe à ceia
o que havia de raro e de mais fino.
Foram damas tais ossos, foram reis,
e príncipes e bispos e donzelas,
mas de todos a morte apenas fez
a tábua rasa do asco e das mazelas.
E ai, na areia anônima, eles moram.
Ninguém os escuta. Os ossos choram."