segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

O Filho Do Seu Menino - Jair Rodrigues

(...)
Quem olha só os prazeres que a vida traz
E vive nas entrelinhas dos homens sem raiz
Se enche de amores falsos
Pois hoje em dia tem gente que vive de fantasia
No desespero de ser feliz
(...)
Eita, na virada do tempo
Um pai tira versos de amor
A vida pode ser dura mas tem momentos de alegria
que há poesia batendo a porta do sonhador
(...)

Eduardo Galeano em O livro dos abraços

A dignidade da arte

Eu escrevo para os que não podem me ler. Os de baixo, os que esperam há séculos na fila da história, não sabem ler ou não tem com o quê.
Quando chega o desânimo, me faz bem recordar uma lição de dignidade da arte que recebi há anos, num teatro de Assis, na Itália. Helena e eu tínhamos ido ver um espetáculo de pantomima, e não havia ninguém. Ela e eu éramos os únicos espectadores. Quando a luz se apagou, juntaram-se a nós o lanterninha e a mulher da bilheteria. E, no entanto, os atores, mais numerosos que o público, trabalharam naquela noite como se estivessem vivendo a glória de uma estréia com lotação esgotada. Fizeram
sua tarefa entregando-se inteiros, com tudo, com alma e vida; e foi uma maravilha.
Nossos aplausos ressoaram na solidão da sala. Nós aplaudimos até esfolar as mãos.

Arnaldo Antunes in Tudos

Eu apresento a página branca.

Contra:

Burocratas travestidos de poetas
Sem-graças travestidos de sérios
Anões travestidos de crianças
Complacentes travestidos de justos
Jingles travestidos de rock
Estórias travestidas de cinema
Chatos travestidos de coitados
Passivos travestidos de pacatos
Medo travestido de senso
Censores travestidos de sensores
Palavras travestidas de sentido
Palavras caladas travestidas de silêncio
Obscuros travestidos de complexos
Bois travestidos de touros
Fraquezas travestidas de virtudes
Bagaços travestidos de polpa
Bagos travestidos de cérebros
Celas travestidas de lares
Paisanas travestidos de drogados
Lobos travestidos de cordeiros
Pedantes travestidos de cultos
Egos travestidos de eros
Lerdos travestidos de zen
Burrice travestida de citações
água travestida de chuva
aquário travestido de tevê
água travestida de vinho
água solta apagando o afago do fogo
água mole sem pedra dura
água parada onde estagnam os impulsos
água que turva as lentes e enferruja as lâminas
água morna do bom gosto, do bom senso e das boas intenções
insípida, amorfa, inodora, incolor
água que o comerciante esperto coloca na garrafa para diluir o whisky
água onde não há seca
água onde não há sede
água em abundância
água em excesso
água em palavras.

Eu apresento a página branca.

A árvore sem sementes.

O vidro sem nada na frente.

Contra a água.

domingo, 12 de dezembro de 2010

Castles burning



Old man lying by the side of the road
With the lorries rolling by,
Blue moon sinking from the weight of the load
And the building scrape the sky,
Cold wind ripping down the allay at dawn
And the morning paper flies,
Dead man lying by the side of the road
With the daylight in his eyes.

Don't let it bring you down
It's only castles burning,
Find someone who's turning
And you will come around.

Blind man running through the light of the night
With an answer in his hand,
Come on down to the river of sight
And you can really understand,
Red lights flashing through the window in the rain,
Can you hear the sirens moan?
White cane lying in a gutter in the lane,
If you're walking home alone.

Don't let it bring you down
It's only castles burning,
Just find someone who's turning
And you will come around.

Don't let it bring you down
It's only castles burning,
Just find someone who's turning
And you will come around.

sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Nomes Completos

Não gosto de nomes completos.
Eles não parecem
Sinceros.

Vinte e pouquinhos

Seguramente tudo está um pouco frio.
Seguramente.
Eu já estive.
Num lugar mais... agasalhante.

Meus sonhos são de neon.
Como faço para ganhar dinheiro?
Quero voltar para
o neon.

Tristeza,
por favor vá embora.
Gracinha.

É um caminho semi-aberto
Semi-aorta.
Semi-árido.

Preciso montar um organograma
mas para isso não presto.
Preciso desenhar um futuro.

Por que não rasgar tudo?

Rasgar rasgar rasgar ragsra

Vai passar fome? Não é mais CRIANÇA.

Deseje-me sorte

Deseje-me sorte
Sou um turbilhão de notícias ainda não verbalizadas
Sim, deseje-me sorte.

Me siento solo - Adanowsky



"Me siento solo,
abandonado,
no deseado;
quiero ser otro.

Pero en el fondo
siempre lo pienso:
“siempre fui amado,
acompañado”.

¿Por qué me siento así,
si todo brilla en sí?
Me quiero ir de aquí,
lejos de mí.

Intento curarme,
solo amarme,
pero nada lo cambia,
vivo con rabia.

A veces me quiero,
a veces me odio,
pero hoy hasta es tan obvio:
“Quiero ser otro”.

¿Por qué me siento así,
si todo brilla en sí?
Me quiero ir de aquí,
lejos de mí."

quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

O Poeta do Castelo (1959) - Manuel Bandeira tossindo, bebendo leite e caminhando pelo Rio



Belo belo minha bela
Tenho tudo que não quero
Não tenho nada que quero
Não quero óculos nem tosse
Nem obrigação de voto
Quero quero
Quero a solidão dos píncaros
A água da fonte escondida
A rosa que floresceu
Sobre a escarpa inacessível
A luz da primeira estrela
Piscando no lusco-fusco
Quero quero
Quero dar a volta ao mundo
Só num navio de vela
Quero rever Pernambuco
Quero ver Bagdad e Cusco
Quero quero
Quero o moreno de Estela
Quero a brancura de Elisa
Quero a saliva de Bela
Quero as sardas de Adalgisa
Quero quero tanta coisa
Belo belo
Mas basta de lero-lero
Vida noves fora zero