domingo, 30 de outubro de 2011

"Aprender a viver" Clarice Lispector

    Thoreau era um filósofo americano que, entre coisas mais difíceis de se assimilar assim de repente, numa leitura de jornal, escreveu muitas coisas que talvez possam nos ajudar a viver de um modo mais inteligente, mais eficaz, mais bonito, menos angustiado.
    Throreau, por exemplo, desolava-se vendo seus vizinhos só pouparem e economizarem para um futuro longínquo. Que se pensasse um pouco no futuro, estava certo. Mas "melhore o momento presente", exclamava. E acrescentava: "Estamos vivos agora." E comentava com desgosto: "Eles ficam juntando tesouros que as traças e a ferrugem irão roer e os ladrões roubar."
    A mensagem é clara: não sacrifique o dia de hoje pelo de amanhã. Se você se sente infeliz agora, tome alguma providência agora, pois só na sequência dos agoras é que você existe.
Cada um de nós, aliás, fazendo um exame de consciência, lembra-se pelo menos de vários agoras que foram perdidos e que não voltarão mais. Há momentos na vida que o arrependimento de não ter tido ou não ter sido ou não ter resolvido ou não ter aceito, há momentos na vida em que o arrependimento é profundo como uma dor profunda.
    Ele queria que fizéssemos agora o que queremos fazer. A vida inteira Thoreau pregou e praticou a necessidade de fazer agora o que é mais importante para cada um de nós.
Por exemplo: para os jovens que queriam tornar-se escritores mas que contemporizavam - ou esperando uma inspiração ou se dizendo que não tinham tempo por causa de estudos ou trabalhos - ele mandava ir agora para o quarto e começar a escrever.
Impacientava-se também com os que gastam tanto tempo estudando a vida que nunca chegam a viver. "É só quando esquecemos todos os nossos conhecimentos que começamos a saber."
    E dizia esta coisa forte que nos enche de coragem: "Por que não deixamos penetrar a torrente, abrimos os portões e pomos em movimento toda a nossa engrenagem?" Só em pensar em seguir o seu conselho, sinto uma corrente de vitalidade percorrer-me o sangue. Agora, meus amigos, está sendo neste próprio instante. Thoreau achava que o medo era a causa da ruína dos nossos momentos presentes. E também as assustadoras opiniões que nós temos de nós mesmos. Dizia ele: "A opinião pública é uma tirana débil, se comparada à opinião que temos de nós mesmos." É verdade: mesmo as pessoas cheias de segurança aparente julgam-se tão mal que no fundo estão alarmadas. E isso, na opinião de Thoreau, é grave, pois "o que um homem pensa a respeito de si mesmo determina, ou melhor, revela seu destino".
    E, por mais inesperado que isso seja, ele dizia: tenha pena de si mesmo. Isso quando se levava uma vida de desespero passivo. Ele então aconselhava um pouco menos de dureza para com eles próprios. O medo faz, segundo ele, ter-se uma covardia desnecessária. Nesse caso devia-se abrandar o julgamento de si próprio. "Creio", escreveu, "que podemos confiar em nós mesmos muito mais do que confiamos. A natureza adapta-se tão bem à nossa fraqueza quanto à nossa força". E repetia mil vez aos que complicavam inutilmente as coisas - e quem de nós não faz isso? -, como eu ia dizendo, ele quase gritava com quem complicava as coisas: simplifique! simplifique!
     E um dia desses, abrindo um jornal e lendo um artigo de um nome de homem que infelizmente esqueci, deparei com citações de Bernanos que na verdade vêm complementar Thoreau, mesmo que aquele jamais tenha lido este.
     Em determinado ponto do artigo (só recortei esse trecho) o autor fala que a marca de Bernanos estava na veemência com que nunca cessou de denunciar a impostura do "mundo livre". Além disso, procurava a salvação pelo risco - sem o qual a vida para ele não valia a pena - "e não pelo encolhimento senil, que não é só dos velhos, é de todos os que defendem as suas posições, inclusive ideológicas, inclusive religiosas" (o grifo é meu).
    Para Bernanos, dizia o artigo, o maior pecado sobre a terra era a avareza, sob todas as formas. "A avareza e o tédio danam o mundo." "Dois ramos, enfim, do egoísmo", acrescenta o autor do artigo. Repito por pura alegria de viver: a salvação é pelo risco, sem o qual a vida não vale a pena! Feliz Ano Novo"

sábado, 22 de outubro de 2011

58. Memória como dança do tempo e imaginação.

Contribuir para a alegria.
Contribuir para o aumento do: olho-te com PASMO, surpreendo-me e gosto.
Contribuir para o afinal deus e o anjo.
a qualidade da existência.
a dança na cave ser como as nuvens: ameaçar cair e não cair.
Contribuir para a população dos Alegres
Fazer filhos na população dos Alegres
Mas não é o Alegre do sorriso maravilhado parvo.
É alegre alegre.
O coração bate no meio do jogo. O coração aumenta as ideias o coração bate no meio do jogo, aumenta s ideias dos alegres, as ideias dos alegres são o coração.
Não é não pensar. Não é o INSTINTO. O Imediato.
É a proporção do metade transparente metade quadro.
o corpo deixa ver para o outro lado e deixa-se ver.
o corpo deixa-se ver e deixa ver para o outro Lado.
Proporção entre o Transparente e o Quadro: o Coração.
(as ideias dos alegres são o Coração)

(Gonçalo M. Tavares)

58. Memória como dança do tempo e imaginação.

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

A lição de Poesia - João Cabral de Melo Neto

1.
Toda a manhã consumida
como um sol imóvel
diante da folha em branco:
princípio do mundo, lua nova.
Já não podias desenhar
sequer uma linha;
um nome, sequer uma flor
desabrochava no verão da mesa:
nem no meio-dia iluminado,
cada dia comprado,
do papel, que pode aceitar,
contudo, qualquer mundo.

2.
A noite inteira o poeta
em sua mesa, tentando
salvar da morte os monstros
germinados em seu tinteiro.
Monstros, bichos, fantasmas
de palavras, circulando,
urinando sobre o papel,
sujando-o com seu carvão.
Carvão de lápis, carvão
da idéia fixa, carvão
da emoção extinta, carvão
consumido nos sonhos.

3.
A luta branca sobre o papel
que o poeta evita,
luta branca onde corre o sangue
de suas veias de água salgada.
A física do susto percebida
entre os gestos diários;
susto das coisas jamais pousadas
porém imóveis - naturezas vivas.
E as vinte palavras recolhidas
as águas salgadas do poeta
e de que se servirá o poeta
em sua máquina útil.
Vinte palavras sempre as mesmas
de que conhece o funcionamento,
a evaporação, a densidade
menor que a do ar.

domingo, 28 de agosto de 2011

A FACA - Enrique Anderson Imbert

"Hoje, mexendo no baú do sótão, minhas mãos se deparam de novo com a faca. É velha. Tenho visto ela um monte de vezes desde a época da minha infância. Segundo me disseram veio do Japão junto com outras coisas que deixou o meu avô após o suicídio. Agora não presta para nada e me pergunto se alguma vez serviu para alguma coisa: até parece uma faca de puro enfeite ou para sei lá que fútil cerimônia. Para mim, ela não tem nenhuma utilidade para abrir cartas porque a folha é demasiado longa e em forma de curva. Para que a conservo? Na verdade não sou eu que a conservo: ela se conserva sozinha. Simplesmente está lá, fica lá. Hoje, quando me deparei com ela, pensei em jogá-la fora. Mas, quanta resistência! Não posso pôr ela no olho da rua. Ela fica presa na minha vida, com força. Estou vendo que ela vai ficar comigo, até o final. Aonde eu vou, ela vai comigo, nos móveis da mudança. Dá para ver que ela não tem outro lugar aonde ir e permanece bem próxima de mim. Não nos dizemos nada. Somente temos em comum o tempo que passamos juntos. Inútil: inútil a minha vontade de jogar a faca no lixo. O que será que ela quer? Começo a me preocupar. Quando a pego, ela me puxa do braço e sua folha encosta no meu ventre."

domingo, 14 de agosto de 2011

tu não te moves de ti

"Pra onde vão os trens meu pai? Para Mahal, Tamí, para Camirí, espaços no mapa, e depois o pai ria: também pra lugar algum meu filho, tu podes ir e ainda que se mova o trem tu não te moves de ti". Hilda Hilst

domingo, 10 de julho de 2011

Shakespeare

"Mas eu lhe digo, meu tolo senhor, dessa
urtiga, o perigo, colhemos esta flor, a salvação."

domingo, 26 de junho de 2011

Amizade - Guimarães Rosa

“Amigo para mim, é só isto: é a pessoa com quem a gente gosta de conversar, do igual para o igual, desarmado. O de que um tira prazer de estar próximo. Só isto, quase; e todos os sacrifícios. Ou – amigo – é que a gente seja, mas sem precisar de saber o por que é que é. Amigo meu era Diadorim.”

domingo, 19 de junho de 2011

Miltom Nascimento - Terceira Margem



"Oco de pau que diz: eu sou madeira, beira
Boa, dá vau, triztriz, risca certeira
Meio a meio o rio ri, silencioso, sério
Nosso pai não diz, diz: risca terceira
Água da palavra, água calada, pura
Água da palavra, água de rosa dura
Proa da palavra, duro silêncio, nosso pai,
Margem da palavra entre as escuras duas
Margens da palavra, clareira, luz madura
Rosa da palavra, puro silêncio, nosso pai
Meio a meio o rio ri por entre as árvores da vida
O rio riu, ri por sob a risca da canoa
O rio riu, ri o que ninguém jamais olvida
Ouvi, ouvi, ouvi a voz das águas
Asa da palavra, asa parada agora
Casa da palavra, onde o silêncio mora
Brasa da palavra, a hora clara, nosso pai
Hora da palavra, quando não se diz nada
Fora da palavra, quando mais dentro aflora
Tora da palavra, rio, pau enorme, nosso pai"

Amores

"Há quem tenha medo de dizer o que sente pautando-se num medo inconsciente de que, ao demonstrar que gosta de alguém, o objeto de afeto deixe prontamente de sentir o mesmo; como se tivesse desvendado um mistério e o enunciante da demonstração já não lhe apresentasse mais nenhum encanto"

segunda-feira, 13 de junho de 2011

O Nome

"No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus..."

domingo, 5 de junho de 2011

Link para o livro de contos FRACASSO

http://pt.scribd.com/doc/57151350/Fracasso

domingo, 8 de maio de 2011



I asked my father,
I said, "Father change my name."
The one I'm using now it's covered up
with fear and filth and cowardice and shame.

Yes and lover, lover, lover, lover, lover, lover, lover come back to me,
yes and lover, lover, lover, lover, lover, lover, lover come back to me.

He said, "I locked you in this body,
I meant it as a kind of trial.
You can use it for a weapon,
or to make some woman smile."

Yes and lover, lover, lover, lover, lover, lover, lover come back to me,
yes and lover, lover, lover, lover, lover, lover, lover come back to me.

"Then let me start again," I cried,
"please let me start again,
I want a face that's fair this time,
I want a spirit that is calm."

Yes and lover, lover, lover, lover, lover, lover, lover come back to me,
yes and lover, lover, lover, lover, lover, lover, lover come back to me.

"I never never turned aside," he said,
"I never walked away.
It was you who built the temple,
it was you who covered up my face."

Yes and lover, lover, lover, lover, lover, lover, lover come back to me,
yes and lover, lover, lover, lover, lover, lover, lover come back to me.

And may the spirit of this song,
may it rise up pure and free.
May it be a shield for you,
a shield against the enemy.

Yes and lover, lover, lover, lover, lover, lover, lover come back to me,
yes and lover, lover, lover, lover, lover, lover, lover come back to me.

quinta-feira, 24 de março de 2011

Poema Robert Frost

"Os bosques são belos, sombrios, fundos. Mas há muitas milhas a andar e muitas promessas a guardar antes de se poder dormir, Sim, antes de se poder dormir"

domingo, 20 de março de 2011

The National - Fake Empire



Stay out super late tonight
picking apples, making pies
put a little something in our lemonade and take it with us
we’re half-awake in a fake empire
we’re half-awake in a fake empire

Tiptoe through our shiny city
with our diamond slippers on
do our gay ballet on ice
bluebirds on our shoulders
we’re half-awake in a fake empire
we’re half-awake in a fake empire

Turn the light out say goodnight
no thinking for a little while
lets not try to figure out everything at once
It’s hard to keep track of you falling through the sky
we’re half-awake in a fake empire
we’re half-awake in a fake empire

sábado, 15 de janeiro de 2011

she picks herself from her petals - Courtney Campbell

she twirls her finger in strands of thought
she twirls her thought and fingers through hair

she wipes little petals from her brow
she pulls lashes from her pollen hairs

wondering at them like strangers, intruders, like fleas
she loses thought in a petal and its flea-like destiny

is it might it it might could be
if it was it perhaps I don't know maybe

take a mirror
take a comb
take a strand
take a point

Honey, look at you, with your fingers in your hair.

- it's not wrong to be who you are
- it's not wrong to want what you do

Honey, it's okay to think and twirl till it comes along.