domingo, 24 de junho de 2007

Vínculos

Vínculos. Vínculos que crio, condenso e elevo e que se derramam no chão, como nuvens. Vínculos que sempre retornam para conter o vazio e que se moldam à imaginação da felicidade jamais alcançada. Com eles, as cenas se repetem, os risos se vestem com a perfeição das máscaras.
Esses desatinados vínculos se recriam e se desmontam de ano em ano deixando sequer um verbo a retomar um pouco do que previamente havia sido montado.

Enquanto isso, as pessoas terrenas que me chamam pra tomar um sorvete e saber como vou passando... Um dia vão-se embora pra Triestre ou pra Brasília e serão como um braço ou uma perna meus que perderei; não são como as nuvens de músculos rarefeitos que se refazem com os suores dos sonhos e dos desencantos.

Vínculos que nascem como nuvens se dissipam como tal, pois chuva é uma verdade de dilúvios e terra semeada. As nuvens são desenhos do nada onde talvez habitem os deuses à perfeição também condenados.

O que fica é antropofágico, se refaz horizontalmente. O que fica tem nos sentidos a memória. Quanto aos momentos enevoados, que nunca existiram... Sobra deles muito pouco; talvez a desgraça de um amor que nem sequer a mim mesma pertence. Pertence talvez ao desejo de não amar, à descrença nos seres.

O que em mim fica, mesmo que para longe se esconda, tece-me casulos de força. É através deles que eu me encontro com vegetações inteiras criadas pela palavra pessoa, pelo amor nascido do embate entre vômitos comidos e abraços de fé - tão certos de serem amor que permitem a cara à tapa, a entrega, a desordem, o abraço.

Recife, 19 de Outubro de 2005.

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